Por Innocêncio Viégas[*]
Ontem recebi um telefonema do
confrade e ex-presidente da Academia de Letras de Brasília, o bom irmão,
escritor e poeta José Carlos Gentili. O motivo era um convite para almoçar com
ele, no dia seguinte.
Sendo eu um dos componentes da
Comissão de Admissão da Academia, logo imaginei ser a conversa sobre algum
candidato à nossa Academia. Preparei-me para o almoço. Tenho por costume levar
um bom vinho para o amigo que visito.
Logo fui procurar na pequena adega
do nosso Rancho, um vinho para um gaúcho e de família italiana. Depois de muito
garimpar, achei um Brunello di Montalcino,
safra de 2004.
A manhã passou voando e logo eu
estava na estrada, montando em meu burro velho, marchando em direção à Vila Gentili.
Em lá chegando, pasmem, avistei um
grande número de automóveis estacionados ao longo da calçada de todos os
vizinhos do Dr. Gentili. Nesse átimo avistei um dos acadêmicos que também
chegava, o Dr. Adirson Jr. Que me vendo chegar, esperou um pouco por mim.
Difícil foi achar uma vaga para
amarrar o burro. Depois de apear, abracei-me com o confrade e seguimos rumo à
Vila. No umbral da residência fomos recebidos pelos anfitriões, Marilene e
Gentili.
Lá dentro, o mundo literário se
agitava e a conversa era a mais cultural possível. Pedi a bênção a todos eles.
Confreiras e confrades se revezavam para apertar a minha mão calosa, calosa de
tanto rachar lenha aqui no Rancho. Não falavam em nada que não fosse filigranas
das letras e das artes. Logo descobri que todos também foram “enganados” com o
convite para ser o único na mesa do casal.
A hora do almoço se aproximava e
ainda faltavam alguns acadêmicos. O presidente deu um tempo e logo usou a
palavra, saudou a todos, lembrou o poeta Fagundes de Oliveira, exaltou seus
feitos e suas qualidades; disse dos seus trinta anos como Orador oficial da
Casa de Mauro Castro e lamentou a sua ausência e de sua esposa Heronisa, por
motivo de força maior. Informou que o almoço com os confrades era um motivo
para agradecer a ajuda emprestada pelos ilustres confrades e confreiras, por
todo esse tempo em que esteve à frente da Academia de Letras de Brasília. A Drª.
Marilene – seu anjo da guarda – também agradeceu a presença de todos e disse
que esse almoço não será o último e que outros ainda virão.
Aplaudimos e ficamos felizes com a
possibilidade da repetição do ágape.
O telefone chama. A dona da casa atende.
Era a confreira Ivone que avisava estar a caminho e lutando com o trânsito
engarrafado e que logo chegaria, e chegou a tempo de ver o início do lauto
almoço.
A casa que nos acolheu não perde em nada
para as casas do cinema francês ou italiano. As paredes ornamentadas com os
mais belos quadros retratando paisagens dos famosos pintores renascentistas.
Grandes esculturas em madeira de lei, retratando os mais milagrosos santos da
Corte dos Céus.
Cristaleiras centenárias nos inebriavam
com os mais finos cristais da Boêmia. Os móveis, um verdadeiro relicário das
mais finas madeiras do Oriente. A mesa principal, de pinho-de-riga, estava
coberta com fina toalha imaculada, tecida com fios de algodão do Egito.
Sobre
a mesa, um belo almoço cheiroso e fumegante. Uma grande terrina barroca
aconchegava uma nobre galinhada. Nobre porque as galinhas vieram do reinado da
Fazenda da Antinha, lá dos confins meridionais do Goiás Velho. Galinhas
mundanas. Mundanas por serem criadas soltas naquele mundo selvagem. Gordas de
tanto ciscarem e mariscarem as mais tenras minhoquinhas, que são pagas para
fertilizarem o belo pasto, e também por degustarem ervas medicinais e para
temperos, o que lhes garante já virem temperadas.
Acompanhando a galinhada, saladas
coloridas e enfeitadas com todas as cores da bela natureza. Ao lado das
saladas, azeite de oliva grego, mostarda francesa, vinagre balsâmico da
Córsega, flor de sal da Malásia e uma agradável pimenta caribenha para
despertar as papilas gustativas dos comensais.
As bebidas, ah! Estas iam da pura
água daquelas cacimbas minerais da Fazenda, ao mais puro vinho das terras altas
do saudoso Portugal, que nos dizeres do poeta maior, é o “Jardim da Europa à
beira-mar plantado”. Sucos naturais diversos, refrigerantes geladíssimos e, lá
num cantinho da mesa, próximo a um velho piano que lembra Mozart, uma
escultural garrafa da “marvada” pinga, perfumada e bela.
Primeiro as damas, depois os
cavalheiros, e todos nós ficamos mais robustos do que chegamos.
A sobremesa ia do bolo de rolo
pernambucano às doçuras caramelizadas dos pudins, bolos, ambrosia, doces de
caldas e frutas frescas que provocavam os proibidos das doçuras, mas todos
esqueceram os conselhos médicos e muitos pecaram.
A tarde se encaminhava para a hora
da sesta e o cafezinho “corajoso” anunciava a saideira.
Agradecemos a acolhida, as comidas,
as bebidas e louvamos os anfitriões pelos belos momentos a nós proporcionados.
Saímos levando no corpo todos os
sabores dos acepipes, e na alma, a alegria do fraternal encontro dos velhos e
bons amigos.
Foi um almoço gostoso e inesquecível
... a galinhada do Dr. Gentili.
Boa sesta!
Bons sonhos!
Brasília,
20/09/2016.
[*] Teólogo
– Escritor; Membro das academias: Acad. de Letras de Brasília; Acad. Maçônica
de Letras do DF; Acad. Maçônica de Letras Paranaense; Acad. Maçônica de Letras
e Artes do Brasil – GOB; Acad. Taguatinguense de Letras; Confraria dos Amigos
da Boa Mesa – COMES; Academia Maçônica de Letras do Maranhão (correspondente);
Academia Maçônica Internacional de Letras; ANE – Associação Nacional de
Escritores – CERAT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário