sábado, 7 de julho de 2018

Crônica de Innocêncio Viégas



Um primor de capa de livro
por Innocêncio Viégas

Nós, os amantes dos livros, vez por outra temos as nossas manias. Um não gosta de livro sem “orelhas”; outro não admite livro com propaganda comercial dos patrocinadores nas capas; mais outro não quer nem ver livro sem as normas que ditam que: as orelhas falam sobre o autor, e o prefácio fala sobre o conteúdo do livro, comentando passagens importantes de sua história e o ”belo” dos seus capítulos. Tem também aqueles que gostam de livro volumoso – Ulisses – de James Joyce – próprio para um gostoso fim de semana; aí vêm aqueles que adoram um livro “meiote”, nem volumoso nem fininho; os apressados gostam de livros medianos, são os devoradores de livros; aqueles iguais a mim, que não escolhem livros, basta que alguém lhes ofereça um, de coração, que fica na livraria horas e horas, namorando os títulos, as capas, a brochura e até o cheiro gostoso de livro novo.
Meus amigos, há também aqueles – e entre esses eu me incluo – que adoram capas. As coloridas; as que retratam paisagens; as que mostram pessoas; as que mostram objetos, natureza morta; e o autor em primeiro plano.
O lugar bom para admirar as capas e as lombadas é no sebo, e nós, os sebistas, nos locupletamos com essas raridades.
Dia desses – como dizia Machado de Assis em suas crônicas – entrei na livraria do shopping e fiquei lendo as “belezuras” ali apresentadas. O meu olho clínico, o único que ainda tenho, localizou um livro que me pareceu uma relíquia dos meus 12 anos.
O livro era a réplica de uma caixa de charutos cubanos. As gravuras, os selos, a cor da madeira do cedro de que são feitas as caixas, e só faltou o cheiro gostoso do produto.
O nome do livro é: Minha vida fora dos trilhos, de Clare Vanderpool. Para completar, tem estampada na capa a gravura de uma locomotiva, rodeada por trilhos. A autora deste livro é a mesma que escreveu  Em algum lugar nas Estrelas, que se tornou um premiado best-seller.
Sem pestanejar, comprei aquele que retratava a caixa de charutos cubanos que eu ganhei do dono da tabacaria onde papai comprava os seus charutos, e nela, eu guardava os meus selos para a coleção; os cartões que vinham nas caixas de sabonete Eucalol; os meus lápis de variadas cores; os apontadores; as giletes marca Futebol para apontar os lápis de madeira mole; e alguns botões do meu time de futebol de mesa. O livro não foi tão caro. O valor de mercado é R$ 49,90. Para os professores cadastrados na livraria, fica por R$ 45,57. É um grande presente para um grande amigo. Conta o livro a história de raízes de uma família. Não vou contar nada mais pois tiraria a beleza e o gosto gostoso da boa leitura. Ele é atualmente o meu livro de cabeceira, e companheiro de viagens. O primor da capa desse tomo traz lembranças da minha gostosa infância e dos passeios que eu - vez por outra - fazia com papai, quando ele ia às compras para a nossa mercearia.
Corra para a livraria, Sô! Leve a patroa, vá ao cinema, tome um sorvete, compre flores para ela...
Tudo por um simples primor de capa de livro.

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