Um primor de capa de livro
por Innocêncio Viégas
Nós, os amantes dos livros, vez por outra temos as nossas manias. Um não gosta de livro sem “orelhas”; outro não admite livro com propaganda comercial dos patrocinadores nas capas; mais outro não quer nem ver livro sem as normas que ditam que: as orelhas falam sobre o autor, e o prefácio fala sobre o conteúdo do livro, comentando passagens importantes de sua história e o ”belo” dos seus capítulos. Tem também aqueles que gostam de livro volumoso – Ulisses – de James Joyce – próprio para um gostoso fim de semana; aí vêm aqueles que adoram um livro “meiote”, nem volumoso nem fininho; os apressados gostam de livros medianos, são os devoradores de livros; aqueles iguais a mim, que não escolhem livros, basta que alguém lhes ofereça um, de coração, que fica na livraria horas e horas, namorando os títulos, as capas, a brochura e até o cheiro gostoso de livro novo.
Meus amigos, há também aqueles – e entre esses eu me incluo – que adoram capas. As coloridas; as que retratam paisagens; as que mostram pessoas; as que mostram objetos, natureza morta; e o autor em primeiro plano.
O lugar bom para admirar as capas e as lombadas é no sebo, e nós, os sebistas, nos locupletamos com essas raridades.
Dia desses – como dizia Machado de Assis em suas crônicas – entrei na livraria do shopping e fiquei lendo as “belezuras” ali apresentadas. O meu olho clínico, o único que ainda tenho, localizou um livro que me pareceu uma relíquia dos meus 12 anos.
O livro era a réplica de uma caixa de charutos cubanos. As gravuras, os selos, a cor da madeira do cedro de que são feitas as caixas, e só faltou o cheiro gostoso do produto.
O nome do livro é: Minha vida fora dos trilhos, de Clare Vanderpool. Para completar, tem estampada na capa a gravura de uma locomotiva, rodeada por trilhos. A autora deste livro é a mesma que escreveu Em algum lugar nas Estrelas, que se tornou um premiado best-seller.
Sem pestanejar, comprei aquele que retratava a caixa de charutos cubanos que eu ganhei do dono da tabacaria onde papai comprava os seus charutos, e nela, eu guardava os meus selos para a coleção; os cartões que vinham nas caixas de sabonete Eucalol; os meus lápis de variadas cores; os apontadores; as giletes marca Futebol para apontar os lápis de madeira mole; e alguns botões do meu time de futebol de mesa. O livro não foi tão caro. O valor de mercado é R$ 49,90. Para os professores cadastrados na livraria, fica por R$ 45,57. É um grande presente para um grande amigo. Conta o livro a história de raízes de uma família. Não vou contar nada mais pois tiraria a beleza e o gosto gostoso da boa leitura. Ele é atualmente o meu livro de cabeceira, e companheiro de viagens. O primor da capa desse tomo traz lembranças da minha gostosa infância e dos passeios que eu - vez por outra - fazia com papai, quando ele ia às compras para a nossa mercearia.
Corra para a livraria, Sô! Leve a patroa, vá ao cinema, tome um sorvete, compre flores para ela...
Tudo por um simples primor de capa de livro.
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