terça-feira, 1 de maio de 2018

DEREK WALCOTT RENASCE EM BRASÍLIA


Jornalista José Carlos Gentili

“Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. O poder da causa inteligente está na razão da grandeza do efeito.” - pensamento kardequiano que nos conduz ao fato da Academia de Letras de Brasília ter homenageado, em vida, o escritor caribenho Derek Walcott, detentor do Prêmio Nobel de Literatura, em 1992.
Por sugestão do confrade Marco Coiatelli, um visionário das causas inteligentes, a nossa entidade cultural concedeu ao escritor santa-lucence o título de Membro Honorário da Academia de Letras de Brasília, em 2015, promovendo em Castries, na caribenha Saint Lucia, magno evento de recepção na Embaixada do Brasil, sob o comando do confrade Sérgio Couri, embaixador plenipotenciário naquele país. Nesta festa de luzes, revestida de pompa e circunstância, o orador oficial, acadêmico Sérgio Couri, disse:
“Em nome da Academia de Letras de Brasília, em humilde mas sincera homenagem, a primeira do gênero para a Academia, gostaria de pedir ao acadêmico Marco Coiatelli, que excele em contos infantis e veio a Santa Lúcia especialmente para esta cerimônia, para fazer-lhe entrega do diploma de Membro Honorário e impor-lhe a correspondente comenda.” Aduziu, ainda: “permitam-me expressar minha extrema admiração pela conquista por Santa Lúcia de dois Prêmios Nobel. É uma proeza cantada pela brisa em todos os quadrantes da Terra, celebrada pelas Hespérides em seu Jardim único e projetada pela luz das estrelas em todas as galáxias do Universo.”
Santa Lúcia é o único país do mundo a ter dois ganhadores de Prêmio Nobel, que são - William Arthur Lewis e Derek Alton Walcott.
Festa de gala para receber o autor de Omeros, poema épico homérico, caribenho que passou a engalanar o Quadro de Membros Honorários desta Casa de Cultura juntamente com os eméritos escritores Arnaldo Niskier, Deonísio da Silva, João Malaca Casteleiro, Vamireh Chacon, estrelas das constelações das Letras mundiais.
As Letras são apátridas em sua gênese. Não se confinam nos limites de suas origens. São criações metafísicas que navegam no Olimpo das inteligências humanas. Seus partícipes são entes mercuriais alados a percorrerem o universo de nossas memórias.
E a memória da Academia de Letras de Brasília guarda no escrínio da saudade a figura deste teatrólogo, professor de Poética, da Universidade de Essex, que nos deixa na planície dos homens.
Morre hoje, 17 de março de 2017, aos 88 anos, Derek Alton Walcott, membro de duas academias literárias, da Academia de Letras de Brasília e da Svenka Akademien, na Suécia.
Vivemos numa Aldeia Global, no dizer do filósofo canadense Herbert Marshal Mcluhan, que a propósito Derek enunciava: “Nosso arquipélago é o sinônimo de pedaços separados de um continente original”.
A feitio dos aedos da Grécia antiga, ficamos na Capital da Esperança a cantar seu poema: “Sou um mulato que ama o mar./ Recebi uma sólida educação colonial./Há em mim muito de holandês,/Negro e inglês:/Sou ninguém ou sou toda uma nação.”
Mulato como Machado de Assis, um dos idealizadores da Academia Brasileira de Letras, Derek costumava relembrar Boris Pasternak, reafirmando:
“Great poets have no time to be original.”

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