domingo, 9 de outubro de 2016

A festa do meu centenário




Por Innocêncio Viégas[*]

         Ontem, dois de outubro, foi o dia oficial – nos documentos – do meu aniversário de 79 anos.
            Na realidade, nasci no dia três de outubro de 1937. Não importa se houve engano do cartorário na hora de fazer o registro, por isso fazemos duas comemorações.
            Não houve festa. Seria impossível reunir aqui no Rancho da Montanha, todos os amigos.
            Nas minhas agendas tenho seiscentos e oitenta e nove endereços de velhos e novos amigos, confrades e confreiras de diversas Academias espalhadas pelo Brasil, e uma em Portugal. Amigos do tempo da caserna, vizinhos e colegas do Grupo dos onze casais amigos e fraternos, queridos e bons irmãos da Sublime Ordem e, muitos já falecidos e que os seus familiares continuam mantendo contato comigo nas datas festivas de final de ano e em dias especiais.
            No dia dois, muitos telefonaram, outros mandaram mensagens eletrônicas e um deles, o Rigueira, ligou com antecedência, por não se encontrar em Brasília na data do “niver” do velhão aqui.
            Nesta crônica quero agradecer a todos os que se lembraram de mim, e pedir a Deus que lhes dê muitos anos de vida, com muita saúde.
            Às vezes a vida nos reserva momentos de muita alegria e a providência divina se encarrega de mandar dois velhos amigos que não poderiam deixar de vir aqui, para representar nesta data os demais seiscentos e oitenta e sete amigos e irmãos. Foram eles, a Professora Heronisa e o Poeta Fagundes de Oliveira, que se somaram aos meus familiares. Todos reunidos cantaram o tradicional “Parabéns” e os netos menores se encarregaram de apagar as velas, com mil sopros sobre o lindo bolo que estava ornamentado com morangos, caramelo e muito chocolate.
            Parti o bolo com a minha tradicional faca “Zakharov” de tantas pelejas, e a Bel recebeu o primeiro pedaço entre beijos e abraços de amigos, filhos, noras, genro e todos os netos. “De quebra” ganhei livros, vinhos de grandes safras, camisas e três belas trovas poéticas da lavra do vate Fagundes de Oliveira, exaltando a vida. Recebi também um perfumado charuto, um “puro baiano” Dona Flor, que será degustado em outra oportunidade celebrando a vida. Ainda fui agraciado com um conjunto de canetas personalizadas com o escudo do meu querido Vasco da Gama de tantas vicissitudes.
            Meus amigos, agora vou fazer-lhes um belo convite: espero contar com a presença de todos, mas todos mesmo, nos dias dois e três de outubro de 2037, quando completarei cem anos.
            Nesse dia teremos uma grande festa: comidas, bebidas, doces, frutas, sorvetes e para coroar a data, um grande baile. Sim, um grande baile e só dançaremos nessa noite, tangos à la Gardel e Le Pera – que era brasileiro – e outros bambas das milongas portenhas. Teremos apenas restrições ao uso de bengalas durante a dança e de sapatos altíssimos para evitar acidentes na hora de entrelaçar as pernas.
            Quando se aproximar a meia-noite, daremos uma parada para a turma “pegar um ar” lá fora, fumar um cigarrinho com o Tarcizio e em seguida retornar ao salão para ouvir os discursos acadêmicos. O Murilo Moreira Veras fará a saudação em nome do Presidente Tarcízio. O Gentilli lembrará os tempos bons da juventude lá nos Pampas. O Fagundes fará um discurso de arrasar quarteirão, com todos os cometimentos. Será franqueada a palavra a quem dela desejar fazer uso.
            O Adirson pai, certamente lembrará J.K., que era um elegante pé-de-valsa. As meninas da Academia cantarão em coro o “Parabéns” ajudadas pelos anjos do coral celestial.
            A festa será encerrada com a valsa Danúbio Azul, solada pelo acadêmico João Batista, em seu plangente violão clássico, sendo, durante a dança, autorizado o uso das bengalas e saltos altos. Desculpem, ia esquecendo de informar o local da comemoração, que será no Céu, no grande salão paroquial, entre as nuvens do Pai Eterno, com todos os bons ventos do espaço sideral. Um lembrete: o Papai do Céu fará a chamada e os que foram para o “beleléu” e que estiverem em outro patamar, curtindo muito calor, serão perdoados – só nesta noite – e poderão participar da festança.
            Depois de estarem conosco no céu, com nossos juízes, advogados, jornalistas, embaixadores, escritores e demais autoridades, eles sabiamente pedirão “asilo político” e ficarão na eterna festa, conosco. Porém, terão que obedecer, e nada de “diabruras”.
Assim, meus queridos, faremos a comemoração do meu centenário. Podem duvidar, quem morrer verá!
            Não faltem!
            Amém!


P.S. Em caso de mudança do local da festa, todos serão avisados.
           





[*]  Teólogo – Escritor; Membro das academias: Acad. de Letras de Brasília; Acad. Maçônica de Letras do DF; Acad. Maçônica de Letras Paranaense; Acad. Maçônica de Letras e Artes do Brasil – GOB; Acad. Taguatinguense de Letras; Confraria dos Amigos da Boa Mesa – COMES; Academia Maçônica de Letras do Maranhão (correspondente); Academia Maçônica Internacional de Letras; ANE – Associação Nacional de Escritores – CERAT. – G 11 -  Email – inocencio.viegas@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário