quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Nossos amigos ainda estão por aqui

Por Innocêncio Viégas[*]

            Todos nós queremos saber de onde viemos e para onde seguiremos. De onde viemos logo saberemos: dos pais, de um Estado do Brasil ou de um país distante. Agora, para onde iremos quando se fechar a cortina do último ato do nosso tempo neste grande palco da vida, isso é muito difícil saber.
            Uns acreditam que seguem desta para outra melhor; outros não sabem o que será de nós; e muitos não querem nem pensar. E é nesse grupo que estou inserido, nem pensar.
            Vivemos querendo saber o que acontece do outro lado da vida, quando fizermos a nossa última viagem em direção ao Oriente Eterno.
            Só temos suposições, crendices, e para isso as diversas religiões se encarregam de nos conformar e preparar a nossa vida espiritual para esse grande dia, que imaginamos nunca acontecer, mas certamente acontecerá.
            Escrevi este preâmbulo para lhes contar um sonho.
            - Sonho? Ora sonho! Isso mesmo, um sonho que vou compartilhar com todos vocês leitores e amigos fraternos.
            No sonho segui para uma agência bancária a fim de solicitar um novo cartão. A agência estava com poucas pessoas, e, ao fundo da sala, em uma das mesas, dois funcionários atendiam um cliente. Fui para lá e sentei-me na cadeira que estava ao lado daquele senhor. Logo nos identificamos. Era ele um querido mano que morrera recentemente.
            Meus amigos, quantas vezes sonhamos com pessoas do nosso convívio que não estão mais entre nós, mas no sonho conversamos, convivemos e nem lembramos que a pessoa é morta, ela está viva em nosso sonho.
            Comigo foi diferente. Eu sabia ser ele, morto.
- Mano, você nos deixou tão rapidamente. Estamos com muitas saudades de você. Ele abaixou a cabeça e passou a chorar. Chorou muito. Eu logo chorei com ele e os dois funcionários também foram às lágrimas.
Em poucos minutos ele se recuperou e nós também. Perguntei-lhe:
- Você está bem? Já encontrou alguns dos nossos amigos que se foram antes de você?
Ele olhou-me sério e respondeu que não havia visto nenhum amigo velho por lá.
Entregou sua papelada aos gerentes e eu fiquei matutando. Se estiver no lugar onde todos nós queremos estar e não viu ninguém, é preocupante, pois os nossos excelentes irmãos que se foram deveriam estar por lá, ao lado do Pai Eterno.
Se ele estiver no lugar que nós todos não queremos ir, deveria ter visto pelo menos dois ou três. Onde será que ele está? Continuei conjecturando.
Será que existe um lugar intermediário, uma espécie de estágio probatório? Ele pareceu ler o meu pensamento. Olhou-me, sorriu candidamente e tudo indicava que me responderia e acabaria com esse eterno mistério. Nisso meu galo Cigano bateu fortemente as suas possantes asas e soltou o forte canto roquenho, anunciando o amanhecer. Incontinente, o relógio da Biblioteca badalou por cinco vezes, compassadamente com o som mavioso do seu carrilhão.
Acordei exausto. Suado. Elevei uma prece ao Criador dos Mundos, pedindo que o ilumine e guarde, e a todos nós, seus irmãos.
A pergunta continua: - Se eles não estão lá onde desejamos, e nem onde não queremos que estejam, onde será que eles estão?
Nessa hora chega o Velho Duca para tomar o seu café e nos diz: - Hoje, 30 de janeiro, é o Dia da Saudade. Acredito que a vida continua mesmo do lado de lá, e quem é vivo sempre aparece.
Não se assustem; os nossos amigos que agora são saudades não foram muito longe. Eles ainda estão por aqui!
Rezemos!
                      
           
                                                                                   Brasília, 01/02/2016.


[*]  Teólogo – Escritor; Membro das academias: Acad. de Letras de Brasília; Acad. Maçônica de Letras do DF; Acad. Maçônica de Letras Paranaense; Acad. Maçônica de Letras e Artes do Brasil – GOB; Acad. Taguatinguense de Letras; Confraria dos Amigos da Boa Mesa – COMES; Academia Maçônica de Letras do Maranhão (correspondente); Academia Maçônica Internacional de Letras; ANE – Associação Nacional de Escritores – CERAT. Email – inocencio.viegas@gmail.com

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