Por Innocêncio Viégas[*]
Todos nós queremos saber de onde
viemos e para onde seguiremos. De onde viemos logo saberemos: dos pais, de um
Estado do Brasil ou de um país distante. Agora, para onde iremos quando se
fechar a cortina do último ato do nosso tempo neste grande palco da vida, isso
é muito difícil saber.
Uns acreditam que seguem desta para
outra melhor; outros não sabem o que será de nós; e muitos não querem nem
pensar. E é nesse grupo que estou inserido, nem pensar.
Vivemos querendo saber o que
acontece do outro lado da vida, quando fizermos a nossa última viagem em
direção ao Oriente Eterno.
Só temos suposições, crendices, e
para isso as diversas religiões se encarregam de nos conformar e preparar a
nossa vida espiritual para esse grande dia, que imaginamos nunca acontecer, mas
certamente acontecerá.
Escrevi este preâmbulo para lhes
contar um sonho.
- Sonho? Ora sonho! Isso mesmo, um
sonho que vou compartilhar com todos vocês leitores e amigos fraternos.
No sonho segui para uma agência
bancária a fim de solicitar um novo cartão. A agência estava com poucas pessoas,
e, ao fundo da sala, em uma das mesas, dois funcionários atendiam um cliente.
Fui para lá e sentei-me na cadeira que estava ao lado daquele senhor. Logo nos
identificamos. Era ele um querido mano que morrera recentemente.
Meus amigos, quantas vezes sonhamos
com pessoas do nosso convívio que não estão mais entre nós, mas no sonho
conversamos, convivemos e nem lembramos que a pessoa é morta, ela está viva em
nosso sonho.
Comigo foi diferente. Eu sabia ser
ele, morto.
- Mano, você nos deixou tão rapidamente.
Estamos com muitas saudades de você. Ele abaixou a cabeça e passou a chorar.
Chorou muito. Eu logo chorei com ele e os dois funcionários também foram às
lágrimas.
Em
poucos minutos ele se recuperou e nós também. Perguntei-lhe:
- Você está bem? Já encontrou alguns dos
nossos amigos que se foram antes de você?
Ele olhou-me sério e respondeu que não
havia visto nenhum amigo velho por lá.
Entregou sua papelada aos gerentes e eu
fiquei matutando. Se estiver no lugar onde todos nós queremos estar e não viu
ninguém, é preocupante, pois os nossos excelentes irmãos que se foram deveriam
estar por lá, ao lado do Pai Eterno.
Se ele estiver no lugar que nós todos não
queremos ir, deveria ter visto pelo menos dois ou três. Onde será que ele está?
Continuei conjecturando.
Será que existe um lugar intermediário,
uma espécie de estágio probatório? Ele pareceu ler o meu pensamento. Olhou-me,
sorriu candidamente e tudo indicava que me responderia e acabaria com esse
eterno mistério. Nisso meu galo Cigano bateu fortemente as suas possantes asas
e soltou o forte canto roquenho, anunciando o amanhecer. Incontinente, o
relógio da Biblioteca badalou por cinco vezes, compassadamente com o som
mavioso do seu carrilhão.
Acordei exausto. Suado. Elevei uma prece
ao Criador dos Mundos, pedindo que o ilumine e guarde, e a todos nós, seus
irmãos.
A pergunta continua: - Se eles não estão
lá onde desejamos, e nem onde não queremos que estejam, onde será que eles
estão?
Nessa hora chega o Velho Duca para tomar o
seu café e nos diz: - Hoje, 30 de janeiro, é o Dia da Saudade. Acredito que a
vida continua mesmo do lado de lá, e quem é vivo sempre aparece.
Não se assustem; os nossos amigos que
agora são saudades não foram muito longe. Eles ainda estão por aqui!
Rezemos!
Brasília,
01/02/2016.
[*] Teólogo – Escritor; Membro das academias: Acad. de Letras
de Brasília; Acad. Maçônica de Letras do DF; Acad. Maçônica de Letras
Paranaense; Acad. Maçônica de Letras e Artes do Brasil – GOB; Acad.
Taguatinguense de Letras; Confraria dos Amigos da Boa Mesa – COMES; Academia
Maçônica de Letras do Maranhão (correspondente); Academia Maçônica
Internacional de Letras; ANE – Associação Nacional de Escritores – CERAT. Email
– inocencio.viegas@gmail.com