Murilo
Moreira Veras
Eis
que, de fala e cátedra, o Presidente José Carlos Gentili incumbiu
este Ad Vitam a saudar nossa literária Arcádia, à sua douta
Efeméride.
De gosto e muito bom prumo o
faço neste 20 de março – data de seu natalício, atento que sou
ao chamado laudatório.
Digníssimo Presidente da ACLEB.
Bravos & incólumes
Acadêmicas & Acadêmicos.
Redivivo camoniano, de
modestíssimo galardão, mas partícipe sempre da aventura humana,
inicio citando o grande profeta da Lusitânia:
“... Cantando espalharei
por toda parte,
Se a tanto me ajudar o
engenho e arte.”
Acadêmicas & Acadêmicos.
Hoje é-me dado exaltar encontro
que não passava de alguns modestos fâmulos literários, em reuniões
iniciáticas ao redor da antiga Távola das Letras, primeiro em forma
de círculo – o simplório Círculo Literário daqueles longínquos
1980 – dois anos depois escudeiros, quando, a 20 de março de 1982,
uma plêiade de jornalistas, poetas, escritores e entusiastas,
fundaram a ACADEMIA DE LETRAS DE BRASÍLIA – ACLEB.
Quem eram esses primeiros
iconoclastas das letras, seus nomes – nomes esses que hoje se
esfumam nas dobras do esquecimento? Que faziam esses viandantes do
tempo, cujas pegadas, aqui e ali, ora divisamos, os olhos a luzirem
de suas aparições ainda ardentes?
O tempo nos obriga revê-los:
- Newton
Rossi, nosso
primeiro presidente, figura impoluta,
palavra sincera de orador
ardoroso, manifestações vigorosas;
-
Wolney Milhomem,
orador vibrante, cultura cósmica, escultor da palavra no
impressionante “Estróina das Horas”;
-
E. D”Almeida Vítor,
nosso guardião instalador da ACLEB,o destemido protetor das letras,
com seus intrépidos anátemas, verdadeiro visionário cultural;
- Maria
de Lourdes Reis,
diligente fundadora da Casa do Poeta em Brasília, visionária e
combativa, poeta e contista de viés acadêmico;
- Itabajara
Catta Preta, o
impecável declamador da poética clássica, cujo versejar, sempre
luminoso, proclamava seu amor à rediviva Elina;
- Argemiro
José Cardoso,
aquele que transformou sua matemática em engenharia de letras,
filósofo da esperança, disseminando sonhos nas suas pegadas
vivenciais;
- Guiomar
Travassos Chianca,
a matriarca dos versos, musicando as estrelas com sua lírica
nordestina, resquícios das plagas de Augusto dos Anjos e José Lins
do Rego;
-Victor
Tannuri, nosso
médico das letras de inspiração prolífica, o cronista que a todos
encantava, mercê de suas vívidas impressões, a ternura impressa na
alma;
-
Eliezer Bezerra,
um dos nossos fundadores, espírito combativo, jornalista cultural,
responsável pelo ingresso da Academia na Federal das Academias de
Letras do Brasil, desde 1985, ele defensor acérrimo de Coelho Netto;
-
Olimpio Cruz, que
foi uma espécie de bandeirante das letras a brandir o verso com a
singeleza de um indianista, abrindo clareiras e manejando o arco e a
flecha com a ingenuidade de educador;
- Pedro
Celestino da Silva Filho
era o que se poderia dizer o idealista meritório que passou pela
Academia furtivamente;
- Mauro
Cunha Campos de Moraes e Castro
é o eterno e eviterno presidente da ACLEB, espírito de galhardia
itinerante, cuja poesia, de natureza vocativa e evocativa,
frequentava os páramos deíferos, diplomata dos andares e cantares
terrenos, espécie de bólido itinerante, espalhando eflúvios de
benesses e fantasias nas suas trilhas;
-Corsíndio
Monteiro da Silva,
acadêmico erudito que enobreceu a cadeira de Rui Barbosa, mandatário
de anátemas jurídicos, sua memória transcende os anais literários;
- Dilson
Ribeiro,
porta-voz autêntico do jornalismo investigativo e cultural,
personalidade combativa, inteligência brilhante, seu estro respira o
dinamismo de seu estilo;
- Geraldo
Freire, nosso
confrade que trocou as lides parlamentares pelas letras, orador e
poeta, através de cujo ardor expressava a magnitude de seu caráter;
- Joel
Barbosa Ribeiro,
o padre vocacionado mais para os pleitos do que para conquista de
devotos, compartiu alguns anos com nossos sonhos e evolou-se para
sempre;
- Arnaldo
Setti, fez da
Academia pletora educativa, pousando as asas jurídicas nos campos
de nossos ideais, como secretário modernizou a entidade com sua
figura exemplar;
-
Dario Viotti,
acérrimo defensor do retorno ao Império, jurista renomado, cujo
brilho da magistratura reluziu em nosso meio, mesmo com o pouco tempo
que conosco conviveu;
- Guido
Mondim, nosso
poeta de linguagem pictórica, o artista que magnetizou o País, a
nossa Academia o ícone de seu talento, robustecida com a flâmula de
seu caráter portenho;
-
Áureo Mello, que
recentemente nos deixou, encantou-se certamente no torvelinho da
suntuária Amazônia, seus versos verdadeiras pérolas a poetizarem o
arco-íris iridescente, hipotéticos hipopótamos, tocatas de
violinos de vidro, cambaxirras e outros alucinógenos românticos,
cujo sabor encantatório nos deliciava ouvir;
- Frei
Bernardo Cansi, o
nosso João Mohana da ACLEB, mandatário da Igreja que nos ensinou a
coerência entre a fé simbólica e a virtuose das letras, andarilho
de amor e esperança, que, por curto tempo, iluminou nosso
conciliábulo literário;
- Clairê
Pires, nobre
companheiro de nossos primórdios, inteligente, auditor de nossa
oitiva acadêmica, hermeneuta performático do Banco do Brasil e do
Banco Central, o qual, depois de, em versos, criticar a rudeza do
imposto de renda, confessou-se com o coração já parado, raptado
que foi pelas misteriosas asas do destino;
- Abel
Rafael Pinto,
parlamentar dos mais vigorosos, defensor do direito e da democracia,
que se integrou às nossas hostes, colaborando na valorização da
dignidade acadêmica;
- Stella
Alexandre Rodopoulos,
poetisa de simplórios versos, autora de livros infantis, honrou sua
Cadeira na Academia;
- Wilson
da Silva Nunes,
professor de música, violonista, compartilhou pouco tempo seu brilho
e gentileza conosco;
- Luiz
Adolfo Pinheiro,
nobre jornalista, escritor, de pouca convivência conosco, mas nosso
divulgador cultural na mídia;
- Joany
de Oliveira,
poeta, educador, antologista, contribuiu com sua erudição e
conhecimento para engrandecer nosso meio;;
- Dom
Geraldo do Espírito Santo Ávila,
cônego que nos honrou com seu prestígio, enriquecendo a Academia
com a sabedoria religiosa;
- Augusto
Estelita Lins, o
semiólogo teórico que inseminou em nosso meio o simbolismo da
cátedra acadêmica em função do culto às letras.
-José
Júlio Guimarães Lima,
jornalista, personalidade marcante, tendo contribuído nos primeiros
passos da Academia;
Esses são os nossos grandes
homenageados neste instante-ágape. Em ágora solene, sob o fervor
acadêmico, celebramos o natalício de nosso redil literário, que é
a Academia de Letras de Brasília.
Que tais louvações não se
rejubilem em Baco, Dionísio ou Apolo. Que nos desencante o eufemismo
de Zeus, refugiado em seu mítico Elíseos. Nem nos deixemos fruir
dos ardores e fervores de Eros e Cupido, pois suas flechas agora nos
são desúteis.
Para com esses deuses
mitológicos façamos como fez Camões nos Lusíadas: ironizemo-lhes
os falsos feitos. Ao invés, glorifiquemos a aventura humana, em vez
de deuses, nossos confrades, anteriores e atuais. Bendigamos nossos
Amigos, os Grandes Escritores, a Pátria, o lugar onde nascemos.
Á feição da ágora platônica
do Saber, celebremos nossa Arcádia e sonhemos que ela prolifere em
frutos bons, fortes e sadios, para ousarmos dizer como disse o autor
dos Lusíadas:
“... Mais razão há que
queira eterna glória
Quem faz obras tão dignas de
memória.”
A ACLEB ergueu-se ao sabor do
tempo, são 33 anos de trabalho, nossas obras, pois, dignas de
memória.
Favoreceu-a, não há negar,
bons ventos, em determinadas estadas de sua evolução até
burocrática, mas hoje progressista, ao adotar dinâmica empresarial.
Vimos alcançando, a passos velozes, o congraçamento ágil, buscamos
o sumo bom no sumo bem, com resultados concretos, tudo isto em prol
de um tempo melhor, uma vida melhor, rica e frutuosa, de uma
imanência pobre ousamos alcançar a transcendência áurea.
Para tanto, ilustra-nos o
advertir camoniano (Canto IX, estância 18):
“... Do Padre Eterno, e por
bom gênio dada,
Que sempre os guia já de
longos anos,
A glória por trabalhos
alcançada,
Satisfação de bem sofridos
danos,
Lhe andava já ordenando, e
pretendia
Dar-lhe, nos mares tristes,
alegria.”
Para encerrar, invoco a
sabedoria de Minerva ou Atena, para selar este Conciliábulo, de
apreço e mui considerável mérito.
Não nos contentam o simples
limiar da Glória, mas, sim, o iluminar AD LUCEM de sua iluminura –
para cima e para o alto. Deveras.
---
Discurso proferido no dia 20 último em homenagem aos 33 anos da ACLEB
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