segunda-feira, 23 de março de 2015

EXALTAÇÃO À EFEMÉRIDE DA ACLEB


Murilo Moreira Veras
Bsb, 20.03.15


Eis que, de fala e cátedra, o Presidente José Carlos Gentili incumbiu este Ad Vitam a saudar nossa literária Arcádia, à sua douta Efeméride.
De gosto e muito bom prumo o faço neste 20 de março – data de seu natalício, atento que sou ao chamado laudatório.

Digníssimo Presidente da ACLEB.
Bravos & incólumes Acadêmicas & Acadêmicos.

Redivivo camoniano, de modestíssimo galardão, mas partícipe sempre da aventura humana, inicio citando o grande profeta da Lusitânia:

... Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.”

Acadêmicas & Acadêmicos.

Hoje é-me dado exaltar encontro que não passava de alguns modestos fâmulos literários, em reuniões iniciáticas ao redor da antiga Távola das Letras, primeiro em forma de círculo – o simplório Círculo Literário daqueles longínquos 1980 – dois anos depois escudeiros, quando, a 20 de março de 1982, uma plêiade de jornalistas, poetas, escritores e entusiastas, fundaram a ACADEMIA DE LETRAS DE BRASÍLIA – ACLEB.
Quem eram esses primeiros iconoclastas das letras, seus nomes – nomes esses que hoje se esfumam nas dobras do esquecimento? Que faziam esses viandantes do tempo, cujas pegadas, aqui e ali, ora divisamos, os olhos a luzirem de suas aparições ainda ardentes?
O tempo nos obriga revê-los:

- Newton Rossi, nosso primeiro presidente, figura impoluta,
palavra sincera de orador ardoroso, manifestações vigorosas;

- Wolney Milhomem, orador vibrante, cultura cósmica, escultor da palavra no impressionante “Estróina das Horas”;

- E. D”Almeida Vítor, nosso guardião instalador da ACLEB,o destemido protetor das letras, com seus intrépidos anátemas, verdadeiro visionário cultural;

- Maria de Lourdes Reis, diligente fundadora da Casa do Poeta em Brasília, visionária e combativa, poeta e contista de viés acadêmico;

- Itabajara Catta Preta, o impecável declamador da poética clássica, cujo versejar, sempre luminoso, proclamava seu amor à rediviva Elina;

- Argemiro José Cardoso, aquele que transformou sua matemática em engenharia de letras, filósofo da esperança, disseminando sonhos nas suas pegadas vivenciais;

- Guiomar Travassos Chianca, a matriarca dos versos, musicando as estrelas com sua lírica nordestina, resquícios das plagas de Augusto dos Anjos e José Lins do Rego;

-Victor Tannuri, nosso médico das letras de inspiração prolífica, o cronista que a todos encantava, mercê de suas vívidas impressões, a ternura impressa na alma;

- Eliezer Bezerra, um dos nossos fundadores, espírito combativo, jornalista cultural, responsável pelo ingresso da Academia na Federal das Academias de Letras do Brasil, desde 1985, ele defensor acérrimo de Coelho Netto;

- Olimpio Cruz, que foi uma espécie de bandeirante das letras a brandir o verso com a singeleza de um indianista, abrindo clareiras e manejando o arco e a flecha com a ingenuidade de educador;

- Pedro Celestino da Silva Filho era o que se poderia dizer o idealista meritório que passou pela Academia furtivamente;

- Mauro Cunha Campos de Moraes e Castro é o eterno e eviterno presidente da ACLEB, espírito de galhardia itinerante, cuja poesia, de natureza vocativa e evocativa, frequentava os páramos deíferos, diplomata dos andares e cantares terrenos, espécie de bólido itinerante, espalhando eflúvios de benesses e fantasias nas suas trilhas;

-Corsíndio Monteiro da Silva, acadêmico erudito que enobreceu a cadeira de Rui Barbosa, mandatário de anátemas jurídicos, sua memória transcende os anais literários;

- Dilson Ribeiro, porta-voz autêntico do jornalismo investigativo e cultural, personalidade combativa, inteligência brilhante, seu estro respira o dinamismo de seu estilo;

- Geraldo Freire, nosso confrade que trocou as lides parlamentares pelas letras, orador e poeta, através de cujo ardor expressava a magnitude de seu caráter;

- Joel Barbosa Ribeiro, o padre vocacionado mais para os pleitos do que para conquista de devotos, compartiu alguns anos com nossos sonhos e evolou-se para sempre;

- Arnaldo Setti, fez da Academia pletora educativa, pousando as asas jurídicas nos campos de nossos ideais, como secretário modernizou a entidade com sua figura exemplar;

- Dario Viotti, acérrimo defensor do retorno ao Império, jurista renomado, cujo brilho da magistratura reluziu em nosso meio, mesmo com o pouco tempo que conosco conviveu;

- Guido Mondim, nosso poeta de linguagem pictórica, o artista que magnetizou o País, a nossa Academia o ícone de seu talento, robustecida com a flâmula de seu caráter portenho;

- Áureo Mello, que recentemente nos deixou, encantou-se certamente no torvelinho da suntuária Amazônia, seus versos verdadeiras pérolas a poetizarem o arco-íris iridescente, hipotéticos hipopótamos, tocatas de violinos de vidro, cambaxirras e outros alucinógenos românticos, cujo sabor encantatório nos deliciava ouvir;

- Frei Bernardo Cansi, o nosso João Mohana da ACLEB, mandatário da Igreja que nos ensinou a coerência entre a fé simbólica e a virtuose das letras, andarilho de amor e esperança, que, por curto tempo, iluminou nosso conciliábulo literário;

- Clairê Pires, nobre companheiro de nossos primórdios, inteligente, auditor de nossa oitiva acadêmica, hermeneuta performático do Banco do Brasil e do Banco Central, o qual, depois de, em versos, criticar a rudeza do imposto de renda, confessou-se com o coração já parado, raptado que foi pelas misteriosas asas do destino;
- Abel Rafael Pinto, parlamentar dos mais vigorosos, defensor do direito e da democracia, que se integrou às nossas hostes, colaborando na valorização da dignidade acadêmica;

- Stella Alexandre Rodopoulos, poetisa de simplórios versos, autora de livros infantis, honrou sua Cadeira na Academia;

- Wilson da Silva Nunes, professor de música, violonista, compartilhou pouco tempo seu brilho e gentileza conosco;

- Luiz Adolfo Pinheiro, nobre jornalista, escritor, de pouca convivência conosco, mas nosso divulgador cultural na mídia;

- Joany de Oliveira, poeta, educador, antologista, contribuiu com sua erudição e conhecimento para engrandecer nosso meio;;

- Dom Geraldo do Espírito Santo Ávila, cônego que nos honrou com seu prestígio, enriquecendo a Academia com a sabedoria religiosa;

- Augusto Estelita Lins, o semiólogo teórico que inseminou em nosso meio o simbolismo da cátedra acadêmica em função do culto às letras.

-José Júlio Guimarães Lima, jornalista, personalidade marcante, tendo contribuído nos primeiros passos da Academia;


Esses são os nossos grandes homenageados neste instante-ágape. Em ágora solene, sob o fervor acadêmico, celebramos o natalício de nosso redil literário, que é a Academia de Letras de Brasília.
Que tais louvações não se rejubilem em Baco, Dionísio ou Apolo. Que nos desencante o eufemismo de Zeus, refugiado em seu mítico Elíseos. Nem nos deixemos fruir dos ardores e fervores de Eros e Cupido, pois suas flechas agora nos são desúteis.
Para com esses deuses mitológicos façamos como fez Camões nos Lusíadas: ironizemo-lhes os falsos feitos. Ao invés, glorifiquemos a aventura humana, em vez de deuses, nossos confrades, anteriores e atuais. Bendigamos nossos Amigos, os Grandes Escritores, a Pátria, o lugar onde nascemos.
Á feição da ágora platônica do Saber, celebremos nossa Arcádia e sonhemos que ela prolifere em frutos bons, fortes e sadios, para ousarmos dizer como disse o autor dos Lusíadas:

... Mais razão há que queira eterna glória
Quem faz obras tão dignas de memória.”

A ACLEB ergueu-se ao sabor do tempo, são 33 anos de trabalho, nossas obras, pois, dignas de memória.

Favoreceu-a, não há negar, bons ventos, em determinadas estadas de sua evolução até burocrática, mas hoje progressista, ao adotar dinâmica empresarial. Vimos alcançando, a passos velozes, o congraçamento ágil, buscamos o sumo bom no sumo bem, com resultados concretos, tudo isto em prol de um tempo melhor, uma vida melhor, rica e frutuosa, de uma imanência pobre ousamos alcançar a transcendência áurea.
Para tanto, ilustra-nos o advertir camoniano (Canto IX, estância 18):

... Do Padre Eterno, e por bom gênio dada,
Que sempre os guia já de longos anos,
A glória por trabalhos alcançada,
Satisfação de bem sofridos danos,
Lhe andava já ordenando, e pretendia
Dar-lhe, nos mares tristes, alegria.”

Para encerrar, invoco a sabedoria de Minerva ou Atena, para selar este Conciliábulo, de apreço e mui considerável mérito.

Não nos contentam o simples limiar da Glória, mas, sim, o iluminar AD LUCEM de sua iluminura – para cima e para o alto. Deveras.

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Discurso proferido no dia 20 último em homenagem aos 33 anos da ACLEB
 

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