quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Legado Da Copa

por Raul Canal

Eu tenho oito, dez, tenho doze anos...
Tenho sonhos, faço planos,
Nunca vi o Brasil campeão
Por isso, com patriotismo,
Sinceridade, otimismo
Implorei na televisão:
- a propaganda era chapa branca,
mas minha ansiedade era franca -
JOGA PRA MIM SELEÇÃO.

A estréia no Itaquera,
Com alma pura e sincera,
Me pintei verde e amarelo.
Não festejei, pois foi feio,
O primeiro gol do torneio,
Embora contra, foi do Marcelo.
Atuação medíocre, fraca
Apresentação cinza e opaca
Ineficiência, ineficácia....
O Felipão prometeu
Venceu, mas não convenceu
No três a um sobre a Croácia.

Segundo jogo seria moleza
No Castelão, lá em Fortaleza
O opositor era o México.
Me envergonhei, sou sincero
No tímido zero a zero,
Resultado anoréxico.
O Fred nem se mexia
E a escrete parecia
Um time de paraplégicos.

Terceiro jogo, que maravilha,
Na Capital Federal, Brasília,
Na arena do Mané,
Até o Fred desencantou
Um gol de cabeça marcou,
Iludindo a nossa fé.
Nas oitavas, daí prá frente
Tudo seria diferente,
Empolgaram-se os bolões.
Sem vaidade e sem afronta
A equipe pareceu pronta:
Quatro a um nos Camarões.

Nas oitavas, veio o Chile
No Mineirão, seria um desfile
Dos heroicos "canarinhos"
Todavia, nos defendemos
O tempo do todo dos chilenos
Outro resultado mesquinho.
Zero a zero no tempo regular
Na prorrogação, nem o Neymar
Conseguiu fazer um 'golzinho'.
Para nosso desespero e lástima
Só nas penalidades máximas
O jogo se consumou.
Não foram nossos artilheiros
Mas a mão santa do arqueiro
Júlio Cesar que nos salvou.

Nas quartas, os colombianos
Nossos latinos hermanos,
Por supuesto, mui calientes,
Dois a um, nosso placar
Mas perdemos o Neymar,
O único competente.
Nenhum ortopedista ousa explicar
Como um 'rodillazo' na lombar
Produz ONZE DEFICIENTES.

Sem Neymar, o nosso mago,
Também perdemos Thiago,
Com suas duas amareladas,
A descrença era tamanha
Na semifinal com a Alemanha,
A derrota era esperada.
Dois a zero seria justo,
Mas ninguém previa o susto
E a vergonhosa goleada.
Sete a um já nos comove
Poderia ser oito ou nove
- Passa boi... passa boiada! -
Tamanho fiasco não se mede
Botaram a culpa no Fred,
Mas o pobre NÃO FEZ NADA.

Restava a consolação
Da terceira colocação,
O que, para a fraca seleção,
Já seria uma proeza.
Um obedece, outro manda...
Mesmo plano tinha a Holanda
Mas com muito mais firmeza.
O carrossel holandês,
Um por um, enfiou três
Na nossa pífia defesa.

Diz a Bíblia e nela cremos
Que ao pó todos voltaremos
Porque viemos do pó...
Felipão vê se me "popa"
Quem ganha a guerra é a tropa
E ninguém vence uma Copa
Com time de um craque só.

No futebol sempre fomos gênios
Mas não sejamos ingênuos
Que a política é cretina
Enganam-se alguns todo o tempo,
Ou todos por algum tempo,
Mas a verdade se descortina.
Vencemos Croácia, Colômbia e Camarões,
Mas gastamos trinta bilhões
Fazendo palco para a Argentina.

Argentina que foi valente,
Latina, como nós, sangue quente
Com gingado e muita manha.
Mas nessa Copa foi diferente
Venceu o mais competente
E não quem tem artimanha
O "fair play" é mui louvável
E o título incontestável
Quem mereceu foi a Alemanha.

Não tenho oito, dez e nem doze anos:
Quarenta e nove - Sou veterano.
E o futebol me interessa.
Lembro do tri em setenta,
Vi o tetra, assisti o penta
E ainda quero ver o hexa.
Me orgulho em ser brasileiro
TODO DIA, O ANO INTEIRO.
Não só na Copa ou no Carnaval.
Sou verde, amarelo e azul anil,
Para amar o meu Brasil,
Não preciso do Mundial.
Tudo À Pátria e DELA nada.
Chame a isso patriotada.
Eu chamo de amor filial.

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